A nova elite do Brasil não é rica — é endividada
- Maison Dór Magazine

- há 4 dias
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Existe uma narrativa confortável sendo vendida no Brasil: a de que surgiu uma “nova elite”, formada por profissionais jovens, cosmopolitas, bem vestidos, viajados e sempre presentes nos restaurantes da moda. Mas essa elite tem um problema: ela não é rica. Ela é endividada.

A imagem da “nova elite” brasileira — jovens profissionais com carros, viagens e apartamentos modernos — começou a rachar. Por trás das fotos perfeitas, muitos estão sustentando um padrão de vida com crédito, cartões e parcelas que comprimem renda e segurança. Não é retórica moralista: os números mostram expansão do crédito e aumento da inadimplência mesmo entre classes médias e altas. É hora de encarar a verdade sem rodeios: status não é liquidez; ostentação não é patrimônio.
O fenômeno tem um motor central: pertencer custa caro. E a classe média alta brasileira, mais do que qualquer outra, aprendeu a comprar pertencimento.
Ela compra: viagens para parecer global, roupas para parecer sofisticada, gadgets para parecer atualizada, restaurantes para parecer relevante, decoração para parecer bem-sucedida.
Tudo isso financiado. Tudo isso parcelado. Tudo isso baseado em uma ficção de estabilidade.
O resultado: um estilo de vida projetado para fora, mas sem sustentação interna.
Passe por um bairro de classe média alta, entre nas redes sociais, e verá uma mesma coreografia: restaurantes caros, viagens, reformas e fotos em casas bem decoradas. Mas a contabilidade pessoal dessas narrativas geralmente não aparece no feed. Pesquisas recentes mostram que metade dos brasileiros das classes A, B e C têm dívidas no cartão — e que preocupação com dinheiro entre essas classes é altíssima. Em outras palavras: muitos que parecem “ricos” estão, na verdade, profundamente dependentes de crédito rotativo e parcelas.
O Brasil vive um paradoxo: nunca tivemos tanto acesso ao crédito e tão pouca educação financeira. E crédito fácil sempre parece uma solução — até virar problema.
Juros altos, inflação imprevisível, instabilidade do mercado de trabalho e excesso de consumo formam uma bomba-relógio silenciosa.
A “elite” que se orgulha do carro do ano raramente diz que ele tem 48 parcelas. A “elite” que mostra a viagem para a Europa não mostra que parcelou em 12 vezes. A “elite” que exibe o novo sofá não mostra o carnê estendido até 2027.
Patrimônio é aquilo que continua sendo seu depois que todas as contas são pagas. Para muita gente, a resposta sincera seria: quase nada.

O ciclo: dívida, ansiedade, repetição
O estilo de vida financiado cobra um preço emocional pesado.
A cada fatura, um susto, a cada reajuste, um aperto, a cada imprevisto, pânico, a cada mês, renegociação. E aí vem a parte mais cruel: para aliviar a ansiedade, muitos voltam a consumir. O consumo vira anestesia. A dívida vira rotina. A liberdade vira miragem.
Ao contrário das elites tradicionais — que acumulam bens, negócios, ações, imóveis, capital produtivo — a nova elite brasileira acumula: milhas, parcelas, limite de cartão, itens de consumo rápido. Ou seja: acumula liabilidades, nunca ativos.
É uma elite que performa riqueza, mas não cria riqueza. Uma elite que depende do crédito, mas não domina o crédito. Uma elite que vive para parecer — não para sustentar.
O que isso significa para o futuro
Esse fenômeno tem consequências sociais importantes:
Gente altamente escolarizada com zero independência financeira.
Adultos exaustos porque trabalham para pagar o passado — não para construir o futuro.
Economia frágil, baseada em consumo financiado e não em crescimento sólido.
Vidas editadas para o Instagram, jamais para a realidade.
Enquanto isso, quem guarda, investe, poupa e vive abaixo do próprio padrão parece “menos rico”, mas está mais perto da verdadeira elite — aquela que não precisa provar nada.
A verdade final — dura, mas libertadora
A nova elite do Brasil não é rica. É ansiosa, vulnerável e alavancada.
E só existe uma forma de quebrar esse ciclo: trocar performance por consistência, consumo por patrimônio, aprovação externa por estabilidade interna.
A verdadeira elite — a que terá liberdade, tempo, escolhas e futuro — será formada não pelos que mostram riqueza, mas pelos que constroem riqueza.
E construir riqueza nunca começa com ostentação. Começa com lucidez.
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